Irmãos.
O calendário assinala hoje dia 31
de maio o dia dos irmãos. Lá em casa somos seis, 4 raparigas e 2 rapazes.
Não vou falar dos irmãos no que
toca às suas personalidades e maneiras de ser, por uma razão óbvia, estamos
todos cá e não quero ferir suscetibilidades, dando preferência a uns mais do
que a outros. Vou então referir-me na generalidade e num contexto global.
Todos temos boas qualidades
humanas porque fomos educados sobre valores bem diferenciados.
Cresci com eles, mais perto de
uns, mais longe de outros. Partilhei desde criança, afetos, brincadeiras,
cumplicidades, zangas e brigas.
Crescemos numa família onde o
patriarca era a figura major. A matriarca sem ser uma pessoa apagada imponha-se
pela sua presença elegante e reservada.
Sendo eu a mais nova, das
raparigas, fui desde muito cedo uma menina mimada, mais acarinhada pelo pai,
pelo facto de a mãe estar demasiado ocupada a cuidar de uma avó e de uma bisavó
e ainda de um irmão mais novo, que desde a sua nascença requereu um pouco de
mais atenção.
Ainda tenho todos os meus irmãos
e com eles partilho momentos de família, comemorando algumas datas de festividade.
Tenho normalmente mais ligação a uns do que a outros, atendendo á proximidade
na forma de ser de cada um deles, não esquecendo que para tudo o que é preciso
somos irmãos, filhos dos nossos pais, o mesmo sangue corre-nos nas veias.
A minha infância com os meus
irmãos no que toca a brincadeira foi um pouco incomum, não brincamos muito, a
diferença de idades não ajudou.
Lembro-me daquelas disputas
banais, do lugar do sofá, do lugar à mesa, das tórridas discussões sobre quem arrumava
a cozinha, dava cera no chão, puxava o lustro, lavava os tapassóis e as janelas
ou regava as flores do jardim.
Lembro-me de sair à socapa com a
roupa da irmã mais velha para o Liceu. O importante era fazer uma boa figura e
levar roupa nova. De discutir com a minha irmã mais velha e dizer que não queria
dormir com ela na mesma cama, (na época ela fazia um tratamento de pele para o
acne na face e o creme que aplicava à noite cheirava mal).
Lembro-me de me incompatibilizar
muito com o meu irmão mais velho, porque ele era um chato, um “engomadinho”, ia
para o meu quarto tirar-me o secador e a escova de cabelo para se aprumar.
Lembro-me de sentir ciúme dos
namorados das minhas irmãs, não que tivéssemos muita convivência entre nós, mas
era menos tempo que elas estavam em casa e me faziam companhia.
Lembro-me de discussões tórridas
com o meu irmão mais novo, cadeiras pelo ar, facas atiradas, até uma vez quase
abrimos uma porta a meio. Eu como não consegui medir forças com ele, atirava as
coisas, era a maneira mais prática que achei para me defender.
Ter irmãos para mim sempre
significou partilha e companhia, partilha porque nas raparigas a roupa ia
sempre rodando da mais velha até a terceira, graças a deus, como eu era a
quarta e com uma diferença de 10 anos, fui uma sortuda nunca vindo a herdar
essas peças. A minha roupa era sempre nova. Valeu-me essa essa pequena nuance.
Companhia, porque era
inevitável, tínhamos dois quartos, um para as raparigas e outro para os
rapazes. Companhia na mesa da cozinha quadrada, de madeira e com um tampo em
fórmica vermelho. Companhia para me levar à escola, para fazer os trabalhos de
casa, e alguma companhia do meu irmão mais novo para andar de bicicleta e
brincar aos cowboys e aos polícias e aos ladrões.
A família é a primeira escola
para a partilha, para a generosidade e para a solidariedade.
A família é isto, o primeiro
espaço onde chegamos, mas não escolhemos.
Aos meus pais, que ainda nos
fazem companhia, agradeço sobretudo os valores que nos transmitiram, a
honestidade, o carácter e a coragem do pai, a sensibilidade a discrição e a
doçura da mãe.
31.05.17