segunda-feira, 30 de março de 2015

Fábrica de Manteiga.

Fábrica de Manteiga.
Neste fim de semana fui surpreendida quando caminhava com o grupo Veredas e Levadas, visitando a antiga Fabrica de Manteiga situada na Fajã da Ovelha, junto à Ribeira de São João.
A fábrica foi construída por volta de 1910 por Augusto César de Gouveia, é um prédio de dois andares, onde no primeiro piso procedia-se à fabricação do produto e no segundo piso eram produzidas massas alimentares.
A manteiga era transportada para o Paul do Mar através de um fio, chamado fio dos Zimbreiros, depois era expedida por via marítima através de barcos directamente do Paul do Mar para o Funchal e dali seguia para outros portos do país e para as diferentes colónias da República Portuguesa.
A minha infância foi vivida entre os sabores, paladares e cheiros de uma serie de lacticínios, a manteiga Zarco e a manteiga Primor (a manteiga com sal embalada em papel vegetal e com letras azuis e a manteiga sem sal com embalagem igual, mas com as letras a vermelho), o leite, o queijo Pinheiro Manso, Castelões, o leite condensado, o leite evaporado, o leite em pó gordo e meio gordo e o reconstituinte Vigormalte.
O meu pai trabalhou toda uma vida para a Martins & Rebello, fábrica de lacticínios da época de 50, com sede em vale de Cambra, e que veio a abrir falência em 2001. Hoje encontra-se representada pela Indulac, mantendo a sua produção original.
Senti uma certa nostalgia ao pisar o terreno da antiga fabrica, não deixando de sentir também uma mágoa incomensurável pelo estado de degradação e abandono que a mesma apresenta. Declarada em tempos património de interesse municipal, fazendo parte do catálogo dos edifícios classificados pela DRAC, não entendo porque até agora ainda ninguém mostrou interesse, por exemplo, em recuperar o edifício para reverter em Museu de Lacticínios. Ignorância do património é sinonimo de cegueira cultural, insipiência de um povo que teima em ignorar e desvalorizar a sua história.
Ainda bem pequena, recordo uns piqueniques que fizemos com o meu pai, aqui nesta fábrica. O Sr. Correia (que era o motorista da Manteigaria Zarco e da Manteigaria União) conduzia a carrinha e levava também a família dele, a mulher, duas filhas e dois filhos, mais nós que éramos 6 crianças, enchíamos o espaço, com bolas, gargalhadas, guinchos, e muita algazarra.
Da Manteigaria Zarco e pela altura do Natal também me assalta as narinas o cheiro dos bolos de mel do Sr. Capelo, das broas de mel e das rosquilhas de manteiga da minha madrinha.
O sábado ficou completo quando cheguei ao Engenho da Calheta, repousei as perninhas numa cadeira de vimes, delicadamente colocada num alpendre e por ali fui ficando a saborear uma nini poncha acompanhada de broas de mel e de um grupo de amigos bem genuínos.
Ainda consegui esticar mais um bocadinho esta companhia prazerosa, parando ao sair da Calheta e ali desfrutar de um magnífico por do sol.
A vida é assim, tem momentos, únicos, tão singulares, despidos de quaisquer adornos.
A simplicidade está naquilo que é, que se vê, no que a natureza por si só nos apresenta e faz deleitar por breves instantes a nossa vida.
A todos os que comigo privaram na caminhada “Caminho Real Fajã da Ovelha- Calheta “ e em especial ao Nekas um bem haja e umas Felizes Páscoas.
30.03.15



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