sexta-feira, 6 de março de 2015

Cuba

Cuba
Decorria o ano de 1999 e fui de viagem a Cuba. Ali a vida parou no tempo. À custa de um embargo económico nos anos 60, imposto pelos Estados Unidos da América, a economia paralisou, a agricultura e a industrialização estagnou. Hoje o país vive do turismo e da exportação de açúcar e de tabaco.
A Espanha e o Canadá foram dos poucos países que tiveram uma grande intervenção na ilha. A Espanha, sobretudo na instalação e administração de grandes unidades hoteleiras.
A população é muito carenciada, com ausência de liberdade de expressão, os guias turísticos, debitam a informação como se de uma cassete previamente gravada se tratasse, ninguém diz nada para além do que é politicamente correto. Só para termos uma ideia os habitantes não podem frequentar os hotéis, nem determinado tipo de espaços, por isso mal saímos à rua somos logo assediados pelos mais variados motivos.
Primeiro estive na cidade de Havana e depois fui para Varadero. No trajecto entre o aeroporto e a cidade, os cartazes espalhados na berma da estrada com expressões como “Che, viva la pátria”, “sigo luchando”, “sin ron no hay revolucion” “yo créo”, “estoy luchando”, “Fidel es mi hermano”, “Hasta la victória, Siempre!”, traduziam a pobreza e a repressão instalada na ilha.
Em Havana fiquei no Hotel Mélia Cohiba. Anexo ao hotel existe um bar dançante “Habana Café”, cujo cenário parece ter saído do filme Pulp Fiction, com um décor da lanchonete onde John Travolta dançava, carros expostos e uma avioneta a hélice suspensa no tecto.
No segundo dia, fomos convidados para uma recepção na casa do embaixador de Portugal em Cuba, um espaço fabuloso, que me deixou completamente deleitada. Os anfitriões abriram a casa, com um jardim estonteantemente belo, muito tropical e um embaixador que esbanjava charme. Lembro-me de que foi um jantar volante, entre o jardim e a residência principal, a casa requintadamente decorada com peças de mobiliário colonial, molduras do anfitrião com o Papa de então, com o Presidente da República Portuguesa (Dr. Jorge Sampaio), peças da companhia das índias, pratas e outros objectos, daqueles que raramente cansam a vista.
Cuba, património da humanidade, país de contrastes, ilha dos excessos, de gente feliz de rostos alegres, que espalham sorrisos a um qualquer desconhecido.
Cuba, pátria da revolução, do “Che”, do Fidel, hoje do Raul Castro, do rum, dos mojitos, dos daiquiris, do chá-chá-chá, da rumba, da salsa, e dos charutos.
Havana, cidade de Hemingway, dos grandes edifícios coloniais, de arcadas e colunas outrora destruídas e desgastadas pela usura do tempo e ausência de restauro.
Assisti ao Dia da Rebeldia Nacional, coincidiu com a minha estadia, dia 26 de Julho (comemoração do assalto ao Quartel de Moncada), fizeram um grande comício onde o Fidel de Castro discursou para além das 8 horas seguidas.
Percorri a cidade velha a pé, vaguei suavemente pela avenida marginal de Malécon, observando o mar, o mesmo mar, que levou vidas, gente que tentou escapulir-se para os Estados Unidos, México e Bahamas em barcos rudimentares em busca da liberdade e de melhores condições de vida. Fixei o olhar atento pelos cabarets, grandes hotéis, e não deixei de apreciar o parque automóvel, aquelas velhas máquinas americanas, Chevrolets, Cadillacs, Dodge e Buicks, brilhantes e cromadas.
A cidade é bastante segura, só não o é à porta dos hotéis e night clubs, a concorrência é desleal, não fosse o perfume barato que as jineteras usam para deleitarem os turistas, o contacto com as gentes é inebriante, as pessoas são alegres, dança-se a salsa em plena rua, ouve-se música em cada esquina, vende-se rum e charutos.
À época em que visitei a ilha a prostituição era grande, a corrupção ainda maior, era uma verdadeira ilha dos prazeres para qualquer pessoa que lá chegasse com dólares no bolso.
Entrei na Catedral pelas traseiras e circulei no mercado de rua comprei artesanato, livros, telas, camisolas, com recordações memoráveis, tipo “I love che”, “yo soy cubano”.
Reparei na quantidade de fardamentos antigos e boinas à venda, discos, livros de poemas e pequenas armas de fogo.
Percorri a Plaza de Armas, Havana Viéja, visitei o Museu da Revolução, o Capitólio, as fábricas de rum e de charutos.
Entrei no emblemático Hotel Nacional, estive na “Bodeguita del Médio” e bebi um dayquiri.
Ao chegar a Varadero o ambiente é outro, sol, praia, piscina, cocktails, mergulho, um verdadeiro relax. Fizemos um passeio de barco e pesca submarina.
A melhor forma à excepção das unidades hoteleiras para comer em Cuba, é aceitar o convite para jantar em casa dos particulares. Somos interpelados em pleno mar por um qualquer habitante local. A principio fiquei receosa, mas depois e perante a insistência de alguns colegas do grupo acabei, por aceitar, e que bom que foi. Ementa, lagosta grelhada, arroz branco e salada. Um manjar dos deuses. É uma excelente oportunidade para conhecer o ponto de vista das pessoas, as suas queixas, os seus orgulhos e as suas frustrações.
A relação dos cubanos com o basebol, é como a dos brasileiros com o futebol, eles até têm uma expressão muito interessante que diz o seguinte “sou cubano, sou feliz, jogo basebol, tenho a pátria no meu coração e os heróis na memória”.
Gostaria ainda de lá voltar, talvez para conhecer as cidades de Trinidad e Santiago, contudo regressar a Cuba, por questões muito pessoais está fora de questão.

06.03.15

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