A Casa Branca,
No sábado
passado estive no primeiro encontro regional de pedestreanismo. Iniciamos a
caminhada na Encumeada, Fajã da Égua e Chão dos Louros. Terminado o evento os
vários grupos de caminhantes reuniram-se no Chão dos Louros para
confraternizar. Apelou-se à conservação dos trilhos, conservação das levadas e
identificação de algum património. Numa região cuja fonte principal de receita
é o turismo é inaceitável a apresentação dos nossos percursos e a degradação
constante das nossas serras e montanhas.
Ao regressar ao
Funchal fui convidada por uma colega do grupo para ir visitar a sua casa e
tomar um copo, mesmo no final da tarde. A principio ainda recusei, alegando a
hora ser tardia, mas depois convenceram-me e ainda bem que aceitei o convite.
Assim que cheguei
á Casa Branca, uma casa no topo do Ilhéu de Câmara de Lobos, lembrei-me de um
concerto ao luar que há uns anos atrás assisti naquele jardim com o grupo
Madredeus, uma coisa quase surreal e mal entrei na casa pensei se o Churchill
ainda fosse vivo talvez alguém o teria convidado para ali colocar o seu
cavalete e desenhar a baía de Câmara de Lobos.
Abaixo da Casa
Branca e aos lados um casario descoordenado, tapumes a improvisar um ou outro
quarto, escadarias irregulares, vasos de flores encavalitados, um misto de
roupa secar e um gato a esgueirar-se pelo telhado de zinco. A paisagem cimeira
composta por poios de bananeiras,
algumas vinhas e casas grandes e solarengas.
A casa havia
sido uma herança de um avô e em tempos idos foi uma habitação para 15 famílias,
mais respectivos filhos e outro agregado familiar.
Restaurada e
reconstituída de novo, o seu interior é semelhante a uma caixa, com vários
compartimentos todos ligados entre si, traduzindo uma verdadeira casa de família.
Minimalista, mas com uma magnificência estonteante, nem o seu exterior
contrasta com o restante bairro, branca de janelas verdes, com um jardim ainda
por arranjar, mas com áreas dimensionais superiores às casas vizinhas.
Logo à entrada
temos uma cozinha num espaço aberto e amplo, com uma zona de arrumos e casa de
banho. No primeiro andar encaixa-se a sala comum, seguindo um corredor
encontramos com acesso por qualquer um dos lados da casa, o escritório, o
quarto de vestir e as casas de banho, terminando ao fundo desse mesmo corredor
com um quarto para cada filho. No segundo piso, o quarto do casal, suspenso, “open space”, sem barreiras e com vista
sobre a sala comum.
Logo, logo, o
mulherio estava todo a cochichar como seria a intimidade do casal, um espaço
tão aberto, sem portas, nem cortinas. Chegamos à conclusão, de que tudo é uma
questão de hábitos, cada um sabe gerir muito bem os seus espaços, proximidades
e privacidade. Ela, com algum humor ainda ripostou “não grito muito”, mas percebemos claramente que aquele espaço não
constitui obstáculo para nenhuma manifestação de prazer. Não são necessárias
portas e janelas para separar e dividir um mundo e um espaço que é só deles.
Achei sobretudo
uma casa bastante funcional e prática, despojada de utilitários dispensáveis,
tapetes, cortinas, quadros, jarras de flores, bibelots, e outros adornos.
Apenas nos quartos dos filhos havia varias molduras com fotografias, alguns
desenhos dos miúdos feitos em crianças e uns post-its no quarto da filha, que
obviamente não me atrevi a aproximar para ler.
À saída da casa
e junto ao jardim uma pérgula coberta por um maracujazeiro, onde se encontra
uma mesa grande e rectangular pronta para uma refeição no exterior. Ainda se
seguiram umas tantas selfies e fotos de grupo junto ao varandim do jardim,
directamente sobranceiro à baía.
Passava das 21
horas quando abri a porta da garagem e cheguei a casa. Tudo no seu perfeito sossego,
ainda descrevi ao meu marido o que tinha acabado de ver, com a eloquência de
uma criança a quem se oferece um presente.
Na minha memória
guardei uma casa invulgar, uma recepção calorosa e despretensiosa pela anfitriã
e uns momentos descontraídos e verdadeiramente prazerosos com alguns amigos.
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