quinta-feira, 2 de julho de 2015

Entre um caminho real e um Jardim Tropical,

Entre um caminho real e um Jardim Tropical,
Iniciamos o percurso junto ao restaurante do Poiso, com um céu azul e uma temperatura quente, a prometer um dia escaldante.
Percorremos de acordo com a acessibilidade possível, a antiga Estrada Nacional nº 24, Ribeira das Cales e Pico Alto. Pelo caminho visitamos o Centro de Receção do Parque Ecológico do Funchal, onde decorria numa sala contígua à receção uma formação de técnicos do mencionado parque. Ali se desenvolvem projectos no âmbito da conservação da Natureza, da educação ambiental e do recreio e lazer dos visitantes.
Descemos, e viemos ter ao Terreiro da Luta. Fez-me uma certa confusão terem deslocado a fonte de pedra, que sempre esteve no meio do caminho, para o lado esquerdo. Não sei se foi exigência dos transeuntes, dos carros de turismo, ou das viaturas que gostam de se aventurar, não percebi…
O trajeto do sábado passado foi o caminho real Poiso/Monte/Funchal e foi bastante interessante quer pelos espaços frescos, recantos, e variedade da vegetação, quer ainda pelas propriedades e quintas que fomos encontrando até Santa Luzia.
Na Igreja do Monte, atrevi-me a subir até ao sino, vislumbra-se uma vista magnífica sobre o Funchal. Não obstante, fiquei um nada entristecida pela falta de manutenção relativamente ao coro e ao restauro das pinturas no tecto do templo. Sendo um dos locais de grande culto da região, motivo de um dos maiores arraiais em honra de Nossa Senhora do Monte, não se compreende tamanho desvelo, compensa os quadros recentemente restaurados.
Já se encontrava inicialmente agendado pelo Nekas uma visita guiada ao Jardim Tropical Monte Palace, um dos Jardins Botânicos mais bonitos do mundo (galardão atribuído pelos sites Tripadvisor e European Best Destinations).
O jardim pertenceu a um cônsul inglês, foi vendido a um português que após o seu falecimento e por a família não ter perpetuado a obra, foi adquirido pela Instituição Financeira Banif (ex- Caixa Económica do Funchal). Em 1987 foi vendido ao empresário Joe Berardo, que o doou à Fundação José Berardo (Instituição Particular de Solidariedade Social).
Ocupa uma área de 70.000m2 e alberga uma vasta coleção de arte, flora e fauna. Entramos pela porta norte, junto às Babosas, e cruzamos de imediato com umas oliveiras milenárias, que foram trazidas do Alqueva. Mais à frente um conjunto de painéis ilustrando alguns factos mais importantes sobre a História de Portugal, outros painéis de azulejos do Séc. XV ao Séc. XX, janelas manuelinas, nichos, brasões e arcos cruzavam as alamedas dos jardins.
No museu visitamos um espaço de escultura contemporânea do Zimbabué, com obras da primeira geração de artistas de Tengenenge. Arte africana em pedra, de artistas outrora desconhecidos e hoje já com bastante notoriedade. A guia que nos acompanhava tinha a lição muito bem estudada, dizia “o Senhor Comendador adquiriu”, “o Senhor Comendador comprou”, “o Senhor Comendador sempre que vem aos jardim (acontece de 2 em 2 semanas), lembra-se de fazer algo de novo, uma cascata, um repuxo ou um banco”. Seja através de mecenatos, fundações, e outras mais instituições financeiras e de “solidariedade”, é certo que o Senhor Comendador contribui e zela pela natureza, pelo meio ambiente e pela nossa Laurissilva (floresta classificada pela UNESCO como Património Mundial Natural).
Seguimos para uma sala que continha um excelente acervo de Minerais e Gemas provenientes do Brasil, África do Sul, Zâmbia, Perú, Argentina e América do Norte. As pedras encontram-se expostas em cavidades, simulando o próprio ambiente de formação dos minerais. Uma profusão de cores e brilhos desde o seu aspecto mais bruto até á forma mais polida e sofisticada, usada para jóias e objectos de adorno pessoal.
Os jardins têm uma influência oriental (cultura chinesa e japonesa), com símbolos característicos, como o dragão, budas, pontes e bancos. Possui também vários lagos, com peixes Koi, e outras variedades de peixes, grandes e pequenos, brancos, prateados, vermelhos e laranjas, cisnes brancos e patos.
A vegetação é exuberante e com plantas exóticas, Cicas, Próteas, Azáleas, Orquídeas, Sequóias, Clíveas, e no espaço da flora endémica madeirense, observamos o Loureiro, Vinhático, Barbusano e Faia.
À saída e já junto à casa principal aprecia-se uma coleção de porcelanas, terrinas, potes, pratos e travessas.
Já em plena rua, e fora daquele arvoredo, daquele ambiente de quase floresta pura, é que nos apercebemos o quanto destilámos lá dentro, fez-se jus a um ambiente tipicamente feminino, como diria uma colega do grupo, no seu comentário cáustico, “meninas o ambiente era demasiado vaginal, quente e húmido”.
E porque da cultura também faz parte tudo aquilo que é histórico, que está impregnado nos nossos hábitos, usos e costumes, e porque nem tudo deve ser consumido única e exclusivamente pelo turista que nos visita, e esquecendo ou pondo de lado a nossa “serventia”, e humilde subserviência, fechei os olhos, respirei fundo e deixei-me conduzir por dois “carreiros” dentro de um típico cesto de vimes.
Foi mesmo o culminar de uma experiência única que, se não fosse naquele momento, não se repetiria nunca.

02-07-15

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