Entre um caminho
real e um Jardim Tropical,
Iniciamos o
percurso junto ao restaurante do Poiso, com um céu azul e uma temperatura quente,
a prometer um dia escaldante.
Percorremos de
acordo com a acessibilidade possível, a antiga Estrada Nacional nº 24, Ribeira
das Cales e Pico Alto. Pelo caminho visitamos o Centro de Receção do Parque
Ecológico do Funchal, onde decorria numa sala contígua à receção uma formação
de técnicos do mencionado parque. Ali se desenvolvem projectos no âmbito da
conservação da Natureza, da educação ambiental e do recreio e lazer dos
visitantes.
Descemos, e
viemos ter ao Terreiro da Luta. Fez-me uma certa confusão terem deslocado a
fonte de pedra, que sempre esteve no meio do caminho, para o lado esquerdo. Não
sei se foi exigência dos transeuntes, dos carros de turismo, ou das viaturas
que gostam de se aventurar, não percebi…
O trajeto do
sábado passado foi o caminho real Poiso/Monte/Funchal e foi bastante
interessante quer pelos espaços frescos, recantos, e variedade da vegetação,
quer ainda pelas propriedades e quintas que fomos encontrando até Santa Luzia.
Na Igreja do
Monte, atrevi-me a subir até ao sino, vislumbra-se uma vista magnífica sobre o
Funchal. Não obstante, fiquei um nada entristecida pela falta de manutenção
relativamente ao coro e ao restauro das pinturas no tecto do templo. Sendo um
dos locais de grande culto da região, motivo de um dos maiores arraiais em
honra de Nossa Senhora do Monte, não se compreende tamanho desvelo, compensa os
quadros recentemente restaurados.
Já se encontrava
inicialmente agendado pelo Nekas uma visita guiada ao Jardim Tropical Monte
Palace, um dos Jardins Botânicos mais bonitos do mundo (galardão atribuído
pelos sites Tripadvisor e European Best Destinations).
O jardim
pertenceu a um cônsul inglês, foi vendido a um português que após o seu
falecimento e por a família não ter perpetuado a obra, foi adquirido pela Instituição
Financeira Banif (ex- Caixa Económica do Funchal). Em 1987 foi vendido ao
empresário Joe Berardo, que o doou à Fundação
José Berardo (Instituição Particular de Solidariedade Social).
Ocupa uma área
de 70.000m2 e alberga uma vasta coleção de arte, flora e fauna. Entramos pela
porta norte, junto às Babosas, e cruzamos de imediato com umas oliveiras
milenárias, que foram trazidas do Alqueva. Mais à frente um conjunto de painéis
ilustrando alguns factos mais importantes sobre a História de Portugal, outros painéis
de azulejos do Séc. XV ao Séc. XX, janelas manuelinas, nichos, brasões e arcos
cruzavam as alamedas dos jardins.
No museu visitamos
um espaço de escultura contemporânea do Zimbabué, com obras da primeira geração
de artistas de Tengenenge. Arte africana em pedra, de artistas outrora
desconhecidos e hoje já com bastante notoriedade. A guia que nos acompanhava tinha
a lição muito bem estudada, dizia “o Senhor Comendador adquiriu”, “o Senhor Comendador comprou”, “o Senhor Comendador sempre que vem aos
jardim (acontece de 2 em 2 semanas), lembra-se
de fazer algo de novo, uma cascata, um repuxo ou um banco”. Seja através de
mecenatos, fundações, e outras mais instituições financeiras e de
“solidariedade”, é certo que o Senhor
Comendador contribui e zela pela natureza, pelo meio ambiente e pela nossa
Laurissilva (floresta classificada pela UNESCO como Património Mundial
Natural).
Seguimos para
uma sala que continha um excelente acervo de Minerais e Gemas provenientes do
Brasil, África do Sul, Zâmbia, Perú, Argentina e América do Norte. As pedras
encontram-se expostas em cavidades, simulando o próprio ambiente de formação
dos minerais. Uma profusão de cores e brilhos desde o seu aspecto mais bruto
até á forma mais polida e sofisticada, usada para jóias e objectos de adorno
pessoal.
Os jardins têm
uma influência oriental (cultura chinesa e japonesa), com símbolos característicos,
como o dragão, budas, pontes e bancos. Possui também vários lagos, com peixes Koi, e outras variedades de peixes,
grandes e pequenos, brancos, prateados, vermelhos e laranjas, cisnes brancos e
patos.
A vegetação é
exuberante e com plantas exóticas, Cicas, Próteas, Azáleas, Orquídeas,
Sequóias, Clíveas, e no espaço da flora endémica madeirense, observamos o Loureiro,
Vinhático, Barbusano e Faia.
À saída e já
junto à casa principal aprecia-se uma coleção de porcelanas, terrinas, potes,
pratos e travessas.
Já em plena rua,
e fora daquele arvoredo, daquele ambiente de quase floresta pura, é que nos
apercebemos o quanto destilámos lá dentro, fez-se jus a um ambiente tipicamente
feminino, como diria uma colega do grupo, no seu comentário cáustico, “meninas o ambiente era demasiado vaginal,
quente e húmido”.
E porque da
cultura também faz parte tudo aquilo que é histórico, que está impregnado nos
nossos hábitos, usos e costumes, e porque nem tudo deve ser consumido única e
exclusivamente pelo turista que nos visita, e esquecendo ou pondo de lado a
nossa “serventia”, e humilde subserviência, fechei os olhos, respirei fundo e
deixei-me conduzir por dois “carreiros”
dentro de um típico cesto de vimes.
Foi mesmo o
culminar de uma experiência única que, se não fosse naquele momento, não se
repetiria nunca.
02-07-15
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