Na tasca do urso,
Há dias estive em Lisboa e fui
jantar a um restaurante muito peculiar. A Tasca do Urso, assim se chama, fica
numa rua do Príncipe Real mesmo em frente à Escola Politécnica. Todo ele é
indescritível, com peças de muito uso e cada uma com a sua história, que por
ter sido a primeira vez que lá fui, ainda não sei nenhuma das histórias.
À entrada deliciei-me com o
chão, azulejo preto e branco, um canapé, um maple daqueles de orelhas, uma mesa
velha com tampo em mármore, um pequeno gira-disco, uma colecção de vinis, o She
do Aznavour em primeiro plano, uns candeeiros antigos, pratos, uma coleção de
galos de Barcelos, mesas e cadeiras, todas diferentes umas das outras, nas
paredes, quadros com retratos antigos, mesmo daqueles a preto e branco, vários
posters de publicidade, da Nívea, da Noite de Santo António, do Azeite Galo,
louceiros e mesinhas do tempo das nossas avós, loiça variada, bules, chávenas,
taças, maquinas de café, daquelas de enroscar, onde por baixo fica o pó e a
agua depois vai subindo.
Bebemos um gin para aperitivo,
temperado com sementes de romã, e limão, jantamos logo na primeira sala, na
mesa da cama. A mesa da cama, assim o é descrita, porque o banco (suficiente
para se sentarem duas pessoas) assenta nas costas de uma cama Como a mesa era
para apenas 3 pessoas, nesse banco sentei-me eu e posei as duas malas das
senhoras.
O restaurante tem mais uma sala e
termina com um pequeno pátio interior com 3 ou 4 mesinhas. É deveras acolhedor,
bastante familiar, senti-me quase como se estivesse em casa, não fosse o
inconveniente de estar a abarrotar de gente.
O pessoal de serviço simpático,
gentil e atento, comi umas entradas de fazer crescer água na boca, alheira
transmontana com chévre e doce de tomate, pataniscas de bacalhau, pica pau, foi
egras, queijos, tudo muito bem regado com um excelente vinho tinto da região do
Douro. Para a sobremesa fizemos uma “vaquinha de mousse de chocolate, mousse de
lima e farófias com canela.
A conversa decorreu muito
fluidamente, as companhias assim o permitiam, falamos da vida, de episódios
passados, com alguma nostalgia, alguma tristeza e magoa à mistura, de
acontecimentos familiares, alguns ainda bem presentes, outros nem por isso,
falamos dos filhos, das diferentes personalidades, dos amigos, e da família que
aos três era comum.
Muita coisa ainda ficou por
falar, não foi oportuno, mas sei que um dia retomaremos alguns assuntos que
apenas foram abordados ao de leve.
Sei aquele restaurante prima pelo
ambiente familiar e despretensioso, pela conversa descontraída, pela amena
cavaqueira, e pelas festas temáticas que organizam, dos anos 60,70 e 80, dos
magustos, dos antigos amigos do liceu, dos antigos amigos do bairro, etc.
É sempre um ponto de encontro,
quem me convidou a lá ir, assim sem ser combinado previamente, encontrou logo
uns 4 ou 5 amigos, amigos de infância, da escola ou do colégio.
Foi uma noite agradável, de boa
conversa, com muita sensibilidade, na mistura de afetos onde embora a distância
separe algumas das pessoas intervenientes os laços que no entanto as unem, são
bem mais fluidos e transportam o carinho e a doçura num gesto, num olhar apenas
ou num esgar espontâneo.
A ti, miúda, que muito te admiro,
que muita luta travaste, que muita dor enfrentaste, algumas perdas importantes
assististe numa impotência atroz, que muita lágrima deixaste deslizar pela tua
face, desejo sobretudo que sejas feliz.
Saí já madrugada fora, e quando
vinha no carro, senti que por algum tempo fiquei de alma cheia, reconfortada,
pelos momentos que vivi, pela amizade que senti, pela ternura e pelo
entretenimento saboreado naquele pedaço de noite.
Obrigada miúda pelo jantar que me
proporcionaste.
18.11.14
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