terça-feira, 18 de novembro de 2014

Na tasca do urso,

Na tasca do urso, 
Há dias estive em Lisboa e fui jantar a um restaurante muito peculiar. A Tasca do Urso, assim se chama, fica numa rua do Príncipe Real mesmo em frente à Escola Politécnica. Todo ele é indescritível, com peças de muito uso e cada uma com a sua história, que por ter sido a primeira vez que lá fui, ainda não sei nenhuma das histórias.
À entrada deliciei-me com o chão, azulejo preto e branco, um canapé, um maple daqueles de orelhas, uma mesa velha com tampo em mármore, um pequeno gira-disco, uma colecção de vinis, o She do Aznavour em primeiro plano, uns candeeiros antigos, pratos, uma coleção de galos de Barcelos, mesas e cadeiras, todas diferentes umas das outras, nas paredes, quadros com retratos antigos, mesmo daqueles a preto e branco, vários posters de publicidade, da Nívea, da Noite de Santo António, do Azeite Galo, louceiros e mesinhas do tempo das nossas avós, loiça variada, bules, chávenas, taças, maquinas de café, daquelas de enroscar, onde por baixo fica o pó e a agua depois vai subindo.
Bebemos um gin para aperitivo, temperado com sementes de romã, e limão, jantamos logo na primeira sala, na mesa da cama. A mesa da cama, assim o é descrita, porque o banco (suficiente para se sentarem duas pessoas) assenta nas costas de uma cama Como a mesa era para apenas 3 pessoas, nesse banco sentei-me eu e posei as duas malas das senhoras.
O restaurante tem mais uma sala e termina com um pequeno pátio interior com 3 ou 4 mesinhas. É deveras acolhedor, bastante familiar, senti-me quase como se estivesse em casa, não fosse o inconveniente de estar a abarrotar de gente.
O pessoal de serviço simpático, gentil e atento, comi umas entradas de fazer crescer água na boca, alheira transmontana com chévre e doce de tomate, pataniscas de bacalhau, pica pau, foi egras, queijos, tudo muito bem regado com um excelente vinho tinto da região do Douro. Para a sobremesa fizemos uma “vaquinha de mousse de chocolate, mousse de lima e farófias com canela.
A conversa decorreu muito fluidamente, as companhias assim o permitiam, falamos da vida, de episódios passados, com alguma nostalgia, alguma tristeza e magoa à mistura, de acontecimentos familiares, alguns ainda bem presentes, outros nem por isso, falamos dos filhos, das diferentes personalidades, dos amigos, e da família que aos três era comum.
Muita coisa ainda ficou por falar, não foi oportuno, mas sei que um dia retomaremos alguns assuntos que apenas foram abordados ao de leve.
Sei aquele restaurante prima pelo ambiente familiar e despretensioso, pela conversa descontraída, pela amena cavaqueira, e pelas festas temáticas que organizam, dos anos 60,70 e 80, dos magustos, dos antigos amigos do liceu, dos antigos amigos do bairro, etc.
É sempre um ponto de encontro, quem me convidou a lá ir, assim sem ser combinado previamente, encontrou logo uns 4 ou 5 amigos, amigos de infância, da escola ou do colégio.
Foi uma noite agradável, de boa conversa, com muita sensibilidade, na mistura de afetos onde embora a distância separe algumas das pessoas intervenientes os laços que no entanto as unem, são bem mais fluidos e transportam o carinho e a doçura num gesto, num olhar apenas ou num esgar espontâneo.
A ti, miúda, que muito te admiro, que muita luta travaste, que muita dor enfrentaste, algumas perdas importantes assististe numa impotência atroz, que muita lágrima deixaste deslizar pela tua face, desejo sobretudo que sejas feliz.
Saí já madrugada fora, e quando vinha no carro, senti que por algum tempo fiquei de alma cheia, reconfortada, pelos momentos que vivi, pela amizade que senti, pela ternura e pelo entretenimento saboreado naquele pedaço de noite.
Obrigada miúda pelo jantar que me proporcionaste.
18.11.14




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