terça-feira, 2 de junho de 2015

Amizades de uma vida inteira,

Amizades de uma vida inteira,
Este texto vem a propósito de um telefonema que recebi na semana passada de um grande amigo de infância acerca de uma cronica aqui publicada intitulada “Jasmineiro”. Confesso que no início do telefonema receei e não sabia bem se a receptividade era boa ou má, descontraí de facto quando me apercebi que até tinha sido simpático da minha parte fazê-lo regressar à sua infância e a uma nostalgia de tempos de outrora vividos numa Madeira bem diferente do que hoje é.
Não falava com este amigo há já longo tempo, não que me tivesse zangado, mas pelas circunstâncias da vida, amigos incomuns, trajectórias e estilos de vida diferentes, foram-nos separando.
E aqui vou entrar numa esfera que muita tinta tem corrido e existem varias opiniões, os amigos, as amizades de uma vida e a família. Serão os amigos mais importantes do que a família? Perdoem-me os que não vão concordar comigo, mas a família para mim está em primeiro lugar. Já escrevi em outros textos que, “a família não se escolhe”, “é a que se tem, quer se goste ou não”, os amigos, pelo contrário, escolhem-se e ficamos com eles uma vida inteira, ou vão uns e vêm outros e outros que entretanto se foram, voltam e ficam, outros ainda foram e não regressam mais.
As pessoas zangam-se por futilidades, por o “diz que disse”, porque “quem conta uma história acrescenta um ponto” e por orgulho ferido, por personalidade vincada e acutilante, raramente fazemos as pazes, reconhecermos e voltarmos atrás para invocar um pedido de desculpas é cada vez menos comum.
Ao longo dos anos, quer-me parecer que isto é um processo mais ou menos natural, ganha-se uns, perdem-se outros, mas existem alguns, poucos seguramente, que nunca se perdem, nem tão pouco se esquecem.
Eu não sou propriamente a pessoa mais pacífica deste mundo, e obviamente já passei por esta fronteira de perder alguns amigos, claro que quando os revejo sinto um claro desconforto, mas não há nada que o tempo não apague, ou não há nada que o tempo não leve, ou ainda a verdade vem sempre ao de cima e a mentira tem perna curta.
Às vezes também penso para não me auto culpar, se não ficaram, se não resistiram como meus amigos é porque não tinha de ser ou é porque não fui merecedora dessa amizade ou ainda porque não eram mesmo meus amigos. Seja como for, o que lá vai, lá vai, não podemos agradar a gregos e troianos e eu de facto, confesso, tenho mau feitio.
Existem vários tipos de amigos, é certo, e eu aqui não vou enumera-los, vou apenas falar daqueles amigos que me acompanham hoje.
Os meus amigos do colégio, que os encontro muito raramente, mas que sei quem são, os do Liceu, da Faculdade, os dos escuteiros, os da infância, vizinhos, filhos dos amigos dos meus pais, os de varias fases da vida e que permaneceram até agora, outros amigos que fiz por influência dos meus filhos, quer pela escola, quer pelas actividades desportivas onde estavam inscritos, os da praia, das férias, das caminhadas, os do trabalho e outros que eventualmente ainda possam vir a surgir.
Os do trabalho, eu costumo dizer que não bem amigos são antes, colegas. Porque os do trabalho queiramos nós ou não, temos de nos relacionar o mais cordialmente possível. Passamos metade do nosso dia-a-dia no trabalho, se não tentamos ter uma relação minimamente saudável e sofrível com todos, muito dificilmente estamos de bom humor no nosso local de trabalho. Contudo, existem excepções à regra, pois no trabalho tenho até alguns bons amigos.
Por a família estar em primeiro lugar, por ter uma família grande, por nos podermos ainda reunir todos em casa dos meus pais, é raro não haver um almoço de Domingo. A mesa vai ficando cada vez mais pequena, sãos os filhos, os netos, os bisnetos, mais os (as) namorados (as). O meu pai fica sempre contente por ter a casa cheia, ele quer pessoas lá em casa, acresce-lhe movimento, vida.
A minha família é como qualquer uma família, não é perfeita, é barulhenta, falamos todos nuns decibéis acima do normal, discutimos uns com os outros, relacionamos melhor com uns do que com outros, é tudo uma questão de afinidades e personalidades mais compatíveis que outras, mas temos valores, princípios e respeito.
Somos todos diferentes, na personalidade e forma de estar na vida, fisicamente existem duas muito parecidas, todos um pouco mais ao lado do pai, a mãe ficou com a beleza só para ela, não distribuiu equitativamente pelos filhos.
Uma das diferenças entre os amigos e a família é que apesar de sermos todos diferentes uns dos outros, na sua essência, somos iguais. Podemos discutir e até zangar-nos mas o elo de ligação não se quebra, e sempre e quando é preciso estarmos lá, inquestionavelmente estamos e damos a nossa força a nossa presença.
Nunca deixamos um irmão só, nunca deixamos de apoiar num momento mais difícil, nunca por nunca ser um de nós se sentirá à margem do seu núcleo familiar.

02-06-15

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