Amizades de uma
vida inteira,
Este texto vem a
propósito de um telefonema que recebi na semana passada de um grande amigo de
infância acerca de uma cronica aqui publicada intitulada “Jasmineiro”. Confesso
que no início do telefonema receei e não sabia bem se a receptividade era boa ou
má, descontraí de facto quando me apercebi que até tinha sido simpático da
minha parte fazê-lo regressar à sua infância e a uma nostalgia de tempos de
outrora vividos numa Madeira bem diferente do que hoje é.
Não falava com
este amigo há já longo tempo, não que me tivesse zangado, mas pelas
circunstâncias da vida, amigos incomuns, trajectórias e estilos de vida
diferentes, foram-nos separando.
E aqui vou
entrar numa esfera que muita tinta tem corrido e existem varias opiniões, os
amigos, as amizades de uma vida e a família. Serão os amigos mais importantes do
que a família? Perdoem-me os que não vão concordar comigo, mas a família para
mim está em primeiro lugar. Já escrevi em outros textos que, “a família não se
escolhe”, “é a que se tem, quer se goste ou não”, os amigos, pelo contrário,
escolhem-se e ficamos com eles uma vida inteira, ou vão uns e vêm outros e
outros que entretanto se foram, voltam e ficam, outros ainda foram e não
regressam mais.
As pessoas
zangam-se por futilidades, por o “diz que
disse”, porque “quem conta uma
história acrescenta um ponto” e por orgulho ferido, por personalidade
vincada e acutilante, raramente fazemos as pazes, reconhecermos e voltarmos
atrás para invocar um pedido de desculpas é cada vez menos comum.
Ao longo dos
anos, quer-me parecer que isto é um processo mais ou menos natural, ganha-se
uns, perdem-se outros, mas existem alguns, poucos seguramente, que nunca se
perdem, nem tão pouco se esquecem.
Eu não sou
propriamente a pessoa mais pacífica deste mundo, e obviamente já passei por
esta fronteira de perder alguns amigos, claro que quando os revejo sinto um
claro desconforto, mas não há nada que o tempo não apague, ou não há nada que o tempo não leve, ou ainda
a verdade
vem sempre ao de cima e a mentira tem
perna curta.
Às vezes também penso
para não me auto culpar, se não ficaram, se não resistiram como meus amigos é
porque não tinha de ser ou é porque não fui merecedora dessa amizade ou ainda
porque não eram mesmo meus amigos. Seja como for, o que lá vai, lá vai, não
podemos agradar a gregos e troianos e eu de facto, confesso, tenho mau feitio.
Existem vários
tipos de amigos, é certo, e eu aqui não vou enumera-los, vou apenas falar
daqueles amigos que me acompanham hoje.
Os meus amigos
do colégio, que os encontro muito raramente, mas que sei quem são, os do Liceu,
da Faculdade, os dos escuteiros, os da infância, vizinhos, filhos dos amigos
dos meus pais, os de varias fases da vida e que permaneceram até agora, outros
amigos que fiz por influência dos meus filhos, quer pela escola, quer pelas
actividades desportivas onde estavam inscritos, os da praia, das férias, das
caminhadas, os do trabalho e outros que eventualmente ainda possam vir a
surgir.
Os do trabalho,
eu costumo dizer que não bem amigos são antes, colegas. Porque os do trabalho
queiramos nós ou não, temos de nos relacionar o mais cordialmente possível.
Passamos metade do nosso dia-a-dia no trabalho, se não tentamos ter uma relação
minimamente saudável e sofrível com todos, muito dificilmente estamos de bom
humor no nosso local de trabalho. Contudo, existem excepções à regra, pois no
trabalho tenho até alguns bons amigos.
Por a família
estar em primeiro lugar, por ter uma família grande, por nos podermos ainda
reunir todos em casa dos meus pais, é raro não haver um almoço de Domingo. A
mesa vai ficando cada vez mais pequena, sãos os filhos, os netos, os bisnetos,
mais os (as) namorados (as). O meu pai fica sempre contente por ter a casa
cheia, ele quer pessoas lá em casa, acresce-lhe movimento, vida.
A minha família
é como qualquer uma família, não é perfeita, é barulhenta, falamos todos nuns
decibéis acima do normal, discutimos uns com os outros, relacionamos melhor
com uns do que com outros, é tudo uma questão de afinidades e personalidades
mais compatíveis que outras, mas temos valores, princípios e respeito.
Somos todos
diferentes, na personalidade e forma de estar na vida, fisicamente existem duas
muito parecidas, todos um pouco mais ao lado do pai, a mãe ficou com a beleza
só para ela, não distribuiu equitativamente pelos filhos.
Uma das
diferenças entre os amigos e a família é que apesar de sermos todos diferentes
uns dos outros, na sua essência, somos iguais. Podemos discutir e até zangar-nos
mas o elo de ligação não se quebra, e sempre e quando é preciso estarmos lá,
inquestionavelmente estamos e damos a nossa força a nossa presença.
Nunca deixamos
um irmão só, nunca deixamos de apoiar num momento mais difícil, nunca por nunca
ser um de nós se sentirá à margem do seu núcleo familiar.
02-06-15
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