Navegando
até às Desertas.
Partimos
por volta das 13 horas, apesar de termos combinado sair mais cedo. Um
imprevisto fez-nos atrasar um pouco.
Viemos a fundear nas desertas às 15 da tarde.
Com vento
fresco do Noroeste, de 18 nós, com rajadas e o mar encrespado com ondulação
desencontrada, navegamos até à deserta com mar pela proa, o que foi de facto um
pouco mais desconfortável.
O vento
foi tão desagradável que só me vinha à memoria cenas dos filmes TItanic ou Message in a botlhe…
A
situação acima descrita não foi para mim de todo muito agradável. Ainda
“piquei” qualquer coisa à saída, mas não tive feedback, acabei por me render ao
silencio e pedir a todos os santinhos que nos acompanhassem. Pois contrariando
a minha natureza, sabia que as coisas não iam ser fáceis, deixei-me ir, naquela
que que apenas para mim, iria ser uma viagem menos tranquila.
Não sei
se as pessoas têm noção da trabalheira que é estar ao comando de um
veleiro/barco, é um não parar, da ré à proa, caça, adriça, amaina, arriba,
folga, o que nós leigos na matéria, aprendemos nesse dia de terminologia
náutica.
Achamos
o máximo cada termo que o nosso “comandante” de bordo usava, e para ajudarmos queríamos
saber as nomenclaturas todas, queríamos estar em cima do acontecimento, o que
para inexperientes na matéria não era fácil, mas lá nos safamos cada um na sua
maior habilidade.
Gostei
imenso da forma como todos se comprometeram, para que a viajem fosse uma cena em conjunto e não apenas da
responsabilidade de uma única pessoa. O António assumia ao de leve o leme,
ajudava na adriça das velas e sempre que possível recolhia-se a um canto para
fumar o seu cigarrinho.
A meio
do trajeto já me sentia enjoada, optei por não falar nada, nada tinha para
dizer para além da minha agonia, do medo que me assolava, só de imaginar o
tempo que ainda levaria para chegar, não a terra, mas a uma enseada onde tudo
indicava que o mar estaria mais calmo.
Valeu mal
chegamos termos dado de caras com um par de lobos marinhos, e depois
juntaram-se ainda mais dois, no conjunto eram quatro à volta do barco.
Valeu também
as fotos que disparamos desenfreadamente na perseguição
aos animais.
No
inicio da travessia tinha sido comentado que nas anteriores viagens feitas às
Desertas nunca se havia presenciado aquelas espécies, portanto as nossas
expectativas eram nulas. Foi engraçado e deu para descomprimir, fiquei apenas
com pena de não ter ido ao banho, fiquei com receio, pois os vigilantes aconselham
as pessoas o não nadarem.
No
regresso para variar voltei a enjoar, desta vez ficando ainda mais indisposta.
Todos
estavam solidários com a minha agonia, uma das minhas amigas que estava sentada
mesmo ao meu lado sofria como se tivesse encarnando a minha pessoa, eu
recostei-me num cantinho agarrada a um saco preto olhando o horizonte e vendo
se a terra ficaria mais perto, de quando em vez sentia a mão dela levemente a
afagar as minhas costas. Eu sabia que todos os outros estavam preocupados, mas
não se atreviam a soletrar uma palavra. Mais nenhum de nós enjoou, ficou
indisposto ou passou mal.
Ao
chegarmos ao Caniçal, já não me lembro de quem foi a ideia, ainda quiseram
petiscar qualquer coisa, não sendo “desmancha prazeres” acompanhei com uma água
das pedras e dois carapauzinhos, não podia nem devia fazer a desfeita, mas aqui
para nós, custou-me imenso.
Àquela
hora já me apetecia ter recolhido bem em terra, bem no meu espaço, bem na minha
casa, muito bem na minha cama.
Amigos,
gostei muito da vossa companhia, foi um prazer estar convosco. Pedro és um
querido, mas só volto a acompanhar-te numa viagem pela costa, assim uma coisa
pertinho, tipo Baía de Abra, enseada de Machico, onde não perca nunca a imagem
da terra por perto, se possível bem próximo do meu nariz.
14.06.17
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