Mestres
A
primeira casa foi na Rua da Torrinha, era uma casa pequena de um só piso com
bananeiras à volta.
Depois
o meu pai mudou-se para a Rua da Carne Azeda, era a casa da minha bisavó, mãe
do meu pai, que ficou a viver connosco. Também era uma casa pequena, mas que o
meu pai pode fazer obras à medida que ia amealhando algum dinheiro. A casa inicialmente
tinha 2 quartos, cozinha e casa de banho, depois foi aumentando e subindo mais
uma andar, hoje é uma casa grande, com um quintal que até já teve laranjeiras,
limoeiros, galinhas e passarinhos e sempre muitas flores, vasos de flores e
canteiros.
O meu
pai sempre teve muito cuidado com a casa, sempre tentou preservá-la, mas para
isso era necessário ter mestres de vez em quando.
E os
mestres eram a dor cabeça da minha mãe, ora era pintar por fora, ora por
dentro, outra vez eram os patassóis, depois o chão, que era daquela pedra de
calhau, no quintal o meu pai ainda inventava arranjos na parte das flores, canteiros,
etc, etc.
Tudo
isto implicava com uma série de coisas que a minha mãe não gostava, gente
estranha a invadir-lhe a casa e a deixar tudo numa imundície.
Foram
tantos os mestres que por aquela casa passaram. Havia um que era um bonito
homem, alto de cabelo preto, muito liso, educado, e envergonhado. Era um mestre
especial, o mais limpo de todos, quando terminava o seu trabalho, varria tudo
com muito cuidado, limpava o pó do cimento e retirava todas as impurezas. Era
muito atencioso e ficava corado só de lhe dirigirem a palavra. Mais tarde e
numa fase já muito mais próxima dos dias de hoje apareceram os últimos dois. O
primeiro foi um grande amigo do meu pai, e por amizade com o meu pai, fez
algumas obras, quando comprei a minha casa em 2004 e quando uma das minhas
irmãs restaurou a casa. Era um mestre muito evoluído, com pinta de engenheiro
ou de arquitecto, com uns lindos olhos azuis e cabelo branco. Foi uma pessoa
crucial na restauração e renovação da casa que decidimos comprar. Às vezes não
sei se o meu pai tinha mais orgulho nele ou na filha que tinha adquirido a
casa, eram mesmo amigos.
A minha
mãe aborrecia-se com tudo o que era obras, concertos, restauros, sujavam-lhe a
casa, para ela não eram necessárias tantas pinturas, na sala, na corredora, nos
quartos, na cozinha, na mesa, nos armários e nas bancas, e ainda nas portas,
quando o meu pai se lembrava. O cheiro a tinta que a intoxicava, a caliça, o
cimento, os trapos, as latas as trinchas que os mestres deixavam por lá
esquecidas. Tudo isto lhe fazia confusão. Recordo os móveis estarem todos afastados
da parede, cobertos com lençóis velhos e diários a cobrir o chão. Confesso que
não era um quadro bonito de se ver, mas como dizia o meu pai, tinha de ser.
Como se
não bastasse o meu pai assim ser, eu tinha uma irmã que também gostava de obras
e de mudanças. Um dia, e porque era moda, forrou o nosso quarto com papel de
parede, pintou as camas, guarda-fato, armários, cómoda, cadeira com tinta cor
de casca de ovo, fez colchas e
cortinas novas, tudo porque queria ficar com um quarto diferente, novo e
moderno. Sei que houve uma discussão muito grande com o meu pai, mas depois ele
acabou por aceitar.
Ainda
hoje é um desatino quando ela se lembra de forrar as almofadas da sala com
tecido diferente ou fazer umas colchas e umas cortinas novas para o quarto dos
meus pais.
12.02.15
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