Ao Tomás
Porque hoje fazes 21 anos. Foi
naquele fim de tarde do dia mais frio do ano de 1993, que nasceste tu franzino,
de pele enrugadinha e muito cabelo escuro.
Hoje, és já quase um homem, com
alguma maturidade intelectual e física, o suficiente para seres responsável
pelos teus atos.
Sinto-te a crescer, a ganhares
asas, a começares a pensar por ti, a saberes fazer as tuas opções, a seres
criterioso, crítico e dono do mundo, como te sinto muitas vezes nas
considerações que vais tecendo sobre o estado do país, das forças de autoridade
ou da forma incontrolável como o homem vem destruindo o seu planeta.
Muitas paixões acalentaste desde
a infância até a tua adolescência, o futebol, o BTT, as saídas nocturnas, os
amigos, os copos, as motas, os desenhos, a viola, as letras, as músicas, o
voluntariado que fizeste no ultimo ano antes de ires para a faculdade e por
ultimo a escrita, não te conhecia este ultimo talento, mas deste-me um prazer
enorme.
Nunca gostaste muito da natação,
talvez por seres sempre muito magro, sentias bastante frio e na creche eu sabia
que esses dias eram uma tortura. No Liceu tudo fizeste para te baldares às
aulas de Educação Física no dia de piscina.
Nunca dormiste muito, desde bebé
sempre foi difícil fechar-te o olho, no carro a caminho da creche ou durante um
passeio, enquanto o teu irmão adormecia só com o motor do carro a trabalhar, tu
mantinhas os olhos bem abertos, atento a tudo o que se passava à tua volta,
colavas a tua cara à janela.
Sempre foste muito rezingão, com
mau humor, não gostas de beijos nem de grandes demonstrações de afeto, mas eu
sei que precisas desses afetos, de abraços, de colo, de companhia, de ternura e
de carinho.
Sei que posso contar sempre
contigo, sei que tens um coração muito grande, que quando cresce muito, começa
a doer, deixa de caber aí dentro, o espaço míngua. Gostava que o partilhasses
mais vezes com a mãe, ficas no silêncio, não dizes nada, mas se calhar eu
poderia ajudar-te. Prometo que só te abraço, não faço perguntas, não te cubro
de beijos e não te mexo no cabelo.
As tuas palavras custam a sair,
parece-me que se elas pagassem um imposto por ficarem aí dentro, tu hoje eras um
milionário e eu não passava da rua. As minhas saem quase sem eu dar por isso.
Talvez se eu aprendesse a contê-las, ganhava mais a tua confiança.
Não questiono e sei que gostas
de mim, mas nem sempre fomos os mais afetuosos um com o outro, tivemos muitas
discussões, esbarramos muito os dois, às vezes sinto-me incompreendida, se calhar
com o passar dos anos vais aprender a conhecer-me melhor e a confiares em mim.
Tens sempre as mãos muito
geladas, tens sempre muito frio, és muito requintado nas tuas amizades e não
só, a comida, as roupas, os sapatos, até os lençóis e o pijama, tem tudo de ter
requisitos muito próprios. Não comes do mesmo prato que outra pessoa, não tocas
no pão se alguém já o beliscou primeiro, nunca terminas a refeição, deixas
sempre qualquer coisa no prato, desde criança, que sem qualquer resultado eu
tento que não deixes restos.
Gosto especialmente da tua
expressão, do teu ar sereno, do teu olhar penetrante, e do teu sorriso
envergonhado, da entrega da tua mão, do teu cheiro que fica pela casa, dos teus
gestos, os teus sons, os teus hábitos, e de todas as tuas coisas que ficaram
infinitamente intocáveis no teu quarto quando foste para Lisboa estudar.
Debaixo da tua timidez
esconde-se uma grande pessoa, um amigo, um filho, que tem um coração cheio de
sonhos, aventuras, recordações boas e menos boas, alegrias, tristezas e mágoas.
A ti filho, que tens seguramente
uma longa vida pela frente, anseio para que não desistas dos teus quereres, nem
das tuas vontades, tudo se conquista, quando se quer muito uma coisa, com
persistência e tenacidade, tudo se alcança.
Vinte e um anos são apenas
alguns. Alguns dos muitos que hás-de viver, gostaria eu que o fizesses intensamente,
com vontade, com garra e com alma de viajante. Eu acho que tu tens alma de
caminhante, daqueles que por onde vão e passam deixam algo, que os identifica e
os distingue dos demais.
Tudo o que lembro agora destes
anos vividos juntos é que foi sempre muito bom. Foi tudo com muita felicidade.
Felicidade por tudo e por nada. E é pelas pequenas coisas, pelos grandes
momentos, pelas conversas sempre curtas, por todos os risos e por cada lágrima e
pelos silêncios verdadeiros, que tu bem os conheces que hoje agradeço por
existires na minha vida.
Ficaria aqui a escrevinhar mais
umas quantas coisas, mas sei que me vais criticar, por isso prometo não gastar mais
palavras.
18.12.14
Sem comentários:
Enviar um comentário