quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ao Tomas,

Ao Tomás
Porque hoje fazes 21 anos. Foi naquele fim de tarde do dia mais frio do ano de 1993, que nasceste tu franzino, de pele enrugadinha e muito cabelo escuro.
Hoje, és já quase um homem, com alguma maturidade intelectual e física, o suficiente para seres responsável pelos teus atos.
Sinto-te a crescer, a ganhares asas, a começares a pensar por ti, a saberes fazer as tuas opções, a seres criterioso, crítico e dono do mundo, como te sinto muitas vezes nas considerações que vais tecendo sobre o estado do país, das forças de autoridade ou da forma incontrolável como o homem vem destruindo o seu planeta.
Muitas paixões acalentaste desde a infância até a tua adolescência, o futebol, o BTT, as saídas nocturnas, os amigos, os copos, as motas, os desenhos, a viola, as letras, as músicas, o voluntariado que fizeste no ultimo ano antes de ires para a faculdade e por ultimo a escrita, não te conhecia este ultimo talento, mas deste-me um prazer enorme.
Nunca gostaste muito da natação, talvez por seres sempre muito magro, sentias bastante frio e na creche eu sabia que esses dias eram uma tortura. No Liceu tudo fizeste para te baldares às aulas de Educação Física no dia de piscina.
Nunca dormiste muito, desde bebé sempre foi difícil fechar-te o olho, no carro a caminho da creche ou durante um passeio, enquanto o teu irmão adormecia só com o motor do carro a trabalhar, tu mantinhas os olhos bem abertos, atento a tudo o que se passava à tua volta, colavas a tua cara à janela.
Sempre foste muito rezingão, com mau humor, não gostas de beijos nem de grandes demonstrações de afeto, mas eu sei que precisas desses afetos, de abraços, de colo, de companhia, de ternura e de carinho.
Sei que posso contar sempre contigo, sei que tens um coração muito grande, que quando cresce muito, começa a doer, deixa de caber aí dentro, o espaço míngua. Gostava que o partilhasses mais vezes com a mãe, ficas no silêncio, não dizes nada, mas se calhar eu poderia ajudar-te. Prometo que só te abraço, não faço perguntas, não te cubro de beijos e não te mexo no cabelo.
As tuas palavras custam a sair, parece-me que se elas pagassem um imposto por ficarem aí dentro, tu hoje eras um milionário e eu não passava da rua. As minhas saem quase sem eu dar por isso. Talvez se eu aprendesse a contê-las, ganhava mais a tua confiança.
Não questiono e sei que gostas de mim, mas nem sempre fomos os mais afetuosos um com o outro, tivemos muitas discussões, esbarramos muito os dois, às vezes sinto-me incompreendida, se calhar com o passar dos anos vais aprender a conhecer-me melhor e a confiares em mim.
Tens sempre as mãos muito geladas, tens sempre muito frio, és muito requintado nas tuas amizades e não só, a comida, as roupas, os sapatos, até os lençóis e o pijama, tem tudo de ter requisitos muito próprios. Não comes do mesmo prato que outra pessoa, não tocas no pão se alguém já o beliscou primeiro, nunca terminas a refeição, deixas sempre qualquer coisa no prato, desde criança, que sem qualquer resultado eu tento que não deixes restos.
Gosto especialmente da tua expressão, do teu ar sereno, do teu olhar penetrante, e do teu sorriso envergonhado, da entrega da tua mão, do teu cheiro que fica pela casa, dos teus gestos, os teus sons, os teus hábitos, e de todas as tuas coisas que ficaram infinitamente intocáveis no teu quarto quando foste para Lisboa estudar.
Debaixo da tua timidez esconde-se uma grande pessoa, um amigo, um filho, que tem um coração cheio de sonhos, aventuras, recordações boas e menos boas, alegrias, tristezas e mágoas.
A ti filho, que tens seguramente uma longa vida pela frente, anseio para que não desistas dos teus quereres, nem das tuas vontades, tudo se conquista, quando se quer muito uma coisa, com persistência e tenacidade, tudo se alcança.
Vinte e um anos são apenas alguns. Alguns dos muitos que hás-de viver, gostaria eu que o fizesses intensamente, com vontade, com garra e com alma de viajante. Eu acho que tu tens alma de caminhante, daqueles que por onde vão e passam deixam algo, que os identifica e os distingue dos demais.
Tudo o que lembro agora destes anos vividos juntos é que foi sempre muito bom. Foi tudo com muita felicidade. Felicidade por tudo e por nada. E é pelas pequenas coisas, pelos grandes momentos, pelas conversas sempre curtas, por todos os risos e por cada lágrima e pelos silêncios verdadeiros, que tu bem os conheces que hoje agradeço por existires na minha vida.
Ficaria aqui a escrevinhar mais umas quantas coisas, mas sei que me vais criticar, por isso prometo não gastar mais palavras.
18.12.14


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