Gosto
de …
Gosto
de jantar numa interessante companhia e de um bom copo de vinho. Gosto de sair,
viajar, chegar a uma cidade desconhecida e andar e procurar e encontrar e falar
e conviver com pessoas que ainda não as tinha conhecido. Gosto do desconhecido.
Gosto de descobrir, de descobrir por mim própria. Não me digam repetidamente o
tenho de fazer, deixem-me no meu livre arbítrio.
Gosto
de ler e de escrever, de ir ao cinema, de ver filmes que me rasguem a alma, que
me provocam aquela estúpida “dor de
burro”, gosto de música, de ouvir música alta, de assistir a um concerto e
de pular e de saltar e de cantar (mesmo que seja desafinado).
Gosto
de serra, da quietude da natureza, gosto do mar, da bravura do mar e dos
passeios na areia, na areia morna, de escrever nomes na areia, de mexer com as
mãos e chapinhar entre a areia molhada e a água, gosto de me sentar sem toalha
na areia e sentir a areia quente no corpo.
Gosto
do sol, do início da primavera, do verão, dos últimos dias do verão, daqueles
fins de tarde em que o sol se põe, e deixa no ar uma brisa ainda tépida, gosto
sempre dos finais do dia. Gosto de pensar no que fiz, o que não fiz, o que
ainda tentarei fazer no dia seguinte.
Gosto
de andar de bicicleta, de sentir os cabelos ao vento e a sopro trespassar a
tshirt e passar pelas costas.
Gosto
de acessórios e de adereços vários, malas, sapatos, brincos, fios, lenços,
echarpes, e cintos.
Gosto
de gostar simplesmente de qualquer coisa, há gente que não gosta de nada, gente
que põe defeito em tudo, gente a quem nada satisfaz, gente infeliz, por certo.
Gosto
da comida portuguesa e da italiana, gosto de pratos tradicionais, cozido à
portuguesa, bacalhau assado na brasa, sardinhas, carapaus, bife com ovo a
cavalo, aprendi a gostar de sushi e já vou comendo muito bem.
Gosto
de ter uma família grande, muitos irmãos, sobrinhos (as), gosto dos almoços em
casa da minha mãe, dos fins de semana em que acordo tarde e preguiço na cama,
lendo, dormitando, relendo, e voltando a dormir, tudo sem horários, sem
compromissos, sem ter que sair de casa, sem ter de pegar no carro e de
conduzir, de fazer almoço ou de cumprir uma qualquer rotina obrigatória.
Gosto
de andar a pé, com phones, concentrada na música que estou a ouvir e de olhar,
olhar para além do que vejo.
Gosto
das cores outonais e das primaveris, gosto dos tons pasteis, do azul do céu, do
azul do mar, do branco das nuvens, do verde das árvores e do castanho amarelado
das folhas caídas.
Gosto
de cozinhar e de receber amigos em minha casa gosto de esmerar-me e de mimar as
pessoas de quem gosto.
Gosto
dos meus filhos, dois, tão diferentes nas personalidades, nas atitudes, nos
sentimentos, tão completos entre si.
Gosto
de quem tenho ao meu lado, que me atura, neste meu mau feitio, nestes acessos
de impetuosidade, agora, mais controlados do que nunca.
A
“idade” tem seguido de mão dada com a tolerância e a capacidade para relevar
tudo o que não é importante, tudo o que em nada irá contribuir para a nossa
felicidade.
Aquilo
que se foi, foi, se calhar era porque não precisava de estar connosco. Durante
muito tempo questionei coisas que fui perdendo ao longo da vida, sempre com
algum constrangimento, uma certa culpa, alguma dor, algum peso de consciência,
há dias dei por mim a pensar, mas porque é que eu continuo neste círculo
vicioso do que perdi e deixei de ter. Perdi, porque se calhar tinha de ser
mesmo assim, deixei de ter, porque não deveria de fazer parte da minha vida, ou
ainda porque não merecia ou simplesmente porque não era para mim.
Gosto
de pessoas, gosto de ter amigos, poucos, mas bons amigos. Gosto daqueles amigos
que não nos cobram nada, que nos aceitem como somos. Gosto mesmo muito,
daqueles amigos de infância, da escola, do liceu, daqueles que não nos vemos
todos os dias, mas que um dia quando os encontramos parece que o tempo parou, e
falamos e conversamos e relembramos o que a memória nos permite fidelizar com
carinho e ternura.
Gosto
da vida, fora da rotina, quiçá de algum imprevisto, não muito longe de uma
realidade doce, segura, certa num tempo que é meu e de quem me rodeia.
Gosto,
tão naturalmente da sensação de gostar.
11.03.15
Eu não andei na escola contigo mas tu escreveste tão bem...
ResponderEliminarObrigada Pedro,por retirares um tempinho para ler e teres gostado beijo.
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