quarta-feira, 11 de março de 2015

Gosto de …

Gosto de …
Gosto de jantar numa interessante companhia e de um bom copo de vinho. Gosto de sair, viajar, chegar a uma cidade desconhecida e andar e procurar e encontrar e falar e conviver com pessoas que ainda não as tinha conhecido. Gosto do desconhecido. Gosto de descobrir, de descobrir por mim própria. Não me digam repetidamente o tenho de fazer, deixem-me no meu livre arbítrio.
Gosto de ler e de escrever, de ir ao cinema, de ver filmes que me rasguem a alma, que me provocam aquela estúpida “dor de burro”, gosto de música, de ouvir música alta, de assistir a um concerto e de pular e de saltar e de cantar (mesmo que seja desafinado).
Gosto de serra, da quietude da natureza, gosto do mar, da bravura do mar e dos passeios na areia, na areia morna, de escrever nomes na areia, de mexer com as mãos e chapinhar entre a areia molhada e a água, gosto de me sentar sem toalha na areia e sentir a areia quente no corpo.
Gosto do sol, do início da primavera, do verão, dos últimos dias do verão, daqueles fins de tarde em que o sol se põe, e deixa no ar uma brisa ainda tépida, gosto sempre dos finais do dia. Gosto de pensar no que fiz, o que não fiz, o que ainda tentarei fazer no dia seguinte.
Gosto de andar de bicicleta, de sentir os cabelos ao vento e a sopro trespassar a tshirt e passar pelas costas.
Gosto de acessórios e de adereços vários, malas, sapatos, brincos, fios, lenços, echarpes, e cintos.
Gosto de gostar simplesmente de qualquer coisa, há gente que não gosta de nada, gente que põe defeito em tudo, gente a quem nada satisfaz, gente infeliz, por certo.
Gosto da comida portuguesa e da italiana, gosto de pratos tradicionais, cozido à portuguesa, bacalhau assado na brasa, sardinhas, carapaus, bife com ovo a cavalo, aprendi a gostar de sushi e já vou comendo muito bem.
Gosto de ter uma família grande, muitos irmãos, sobrinhos (as), gosto dos almoços em casa da minha mãe, dos fins de semana em que acordo tarde e preguiço na cama, lendo, dormitando, relendo, e voltando a dormir, tudo sem horários, sem compromissos, sem ter que sair de casa, sem ter de pegar no carro e de conduzir, de fazer almoço ou de cumprir uma qualquer rotina obrigatória.
Gosto de andar a pé, com phones, concentrada na música que estou a ouvir e de olhar, olhar para além do que vejo.
Gosto das cores outonais e das primaveris, gosto dos tons pasteis, do azul do céu, do azul do mar, do branco das nuvens, do verde das árvores e do castanho amarelado das folhas caídas.
Gosto de cozinhar e de receber amigos em minha casa gosto de esmerar-me e de mimar as pessoas de quem gosto.
Gosto dos meus filhos, dois, tão diferentes nas personalidades, nas atitudes, nos sentimentos, tão completos entre si.
Gosto de quem tenho ao meu lado, que me atura, neste meu mau feitio, nestes acessos de impetuosidade, agora, mais controlados do que nunca.
A “idade” tem seguido de mão dada com a tolerância e a capacidade para relevar tudo o que não é importante, tudo o que em nada irá contribuir para a nossa felicidade.
Aquilo que se foi, foi, se calhar era porque não precisava de estar connosco. Durante muito tempo questionei coisas que fui perdendo ao longo da vida, sempre com algum constrangimento, uma certa culpa, alguma dor, algum peso de consciência, há dias dei por mim a pensar, mas porque é que eu continuo neste círculo vicioso do que perdi e deixei de ter. Perdi, porque se calhar tinha de ser mesmo assim, deixei de ter, porque não deveria de fazer parte da minha vida, ou ainda porque não merecia ou simplesmente porque não era para mim.
Gosto de pessoas, gosto de ter amigos, poucos, mas bons amigos. Gosto daqueles amigos que não nos cobram nada, que nos aceitem como somos. Gosto mesmo muito, daqueles amigos de infância, da escola, do liceu, daqueles que não nos vemos todos os dias, mas que um dia quando os encontramos parece que o tempo parou, e falamos e conversamos e relembramos o que a memória nos permite fidelizar com carinho e ternura.
Gosto da vida, fora da rotina, quiçá de algum imprevisto, não muito longe de uma realidade doce, segura, certa num tempo que é meu e de quem me rodeia.
Gosto, tão naturalmente da sensação de gostar.
11.03.15


2 comentários:

  1. Eu não andei na escola contigo mas tu escreveste tão bem...

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    1. Obrigada Pedro,por retirares um tempinho para ler e teres gostado beijo.

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